Cleiton de Castro Marques - CEO DA BIOLAB
"Até meados dos anos 1980, o setor farmacêutico passou por um período duro. E nós, que estávamos ainda com um negócio em fase inicial, sofremos bastante"
Perguntar a Cleiton de Castro Marques há quanto tempo ele trabalha no mercado farmacêutico, e por que se interessou pelo setor, é como perguntar desde quando ele se conhece por gente. Por quê? O CEO da Biolab esclarece: "Eu praticamente nasci no mercado farmacêutico. Meu pai começou nesse setor como propagandista médico, construiu uma carreira e acabou se tornando proprietário de um laboratório".
A batalha do João Marques de Paulo, pai (e principal exemplo de vida) de Cleiton e de seus quatro irmãos, para conciliar as demandas da profissão com os deveres familiares (a mãe faleceu cedo) fez com que a família se mudasse várias vezes de cidade. Nascido em Belo Horizonte, Cleiton se recorda das dificuldades pelas quais passaram. "Nunca tive nem a opção de pensar em outra carreira, a família toda trabalhava junto. Entre o final dos anos 1970 e meados dos anos 1980, o setor farmacêutico passou por um período duro. E nós, que estávamos ainda com um negócio em fase inicial, sofremos bastante. "
Marques fez faculdade de economia, mas conta que a formação acadêmica não era a prioridade. "Trabalhávamos feito loucos para pagar as contas." Mas valeu a pena. Hoje a Biolab engloba três empresas (a Biolab Sanus, para produtos de prescrição; a Biolab Genéricos e a Biolab Pharmaceutical, especializada no desenvolvimento de produtos, com sede no Canadá), emprega 3.100 funcionários e é responsável por 9 mil empregos indiretos. Além disso, está investindo R$ 450 milhões na construção de uma fábrica em Pouso Alegre (MG), que vai ficar pronta em 2021.
"Os ciclos na indústria farmacêutica são muito longos. O curto prazo geralmente é de três ou quatro anos. Então, temos de pensar sempre no desenvolvimento do país e no desenvolvimento tecnológico. É um setor muito dinâmico. Estamos vivendo um momento de incorporação de novas tecnologias. Os avanços da biotecnologia revolucionaram o tratamento de diversas doenças, principalmente as autoimunes e, agora, as terapias gênicas."
Inovação é uma das obsessões do CEO. "Se não inovarmos, viramos fabricante do commodities. Por isso, dou tanto valor a inovação, em todos os sentidos: dos produtos aos processos. Investimos 10% do nosso faturamento em PD&I (pesquisa desenvolvimento e inovação). " Marques conta que a Biolab tem 20 estudos clínicos em andamento e quase 300 patentes solicitadas. "Fazemos tanto pesquisas radicais, que envolvem produtos totalmente novos, como pesquisas incrementais, com novas formulações."
Para o executivo, um dos principais desafios para o setor da saúde, responsável por quase 20% do PIB do Brasil, é lidar com as constantes mudanças regulatórias e os custos altos para o desenvolvimento de novos produtos. "Outra questão é o desemprego, pois a população acaba ficando sem acesso aos medicamentos", afirma Marques. " Tenho muito prazer em lançar um produto, sentir que ele é bem recebido pela classe médica e melhorar a qualidade de vida das pessoas."
Mesmo com a atenção voltada à expansão internacional da Biolab, ele mantém a confiança no Brasil e acredita que o país tem todas as condições de fazer com que a crise econômica seja coisa do passado. Mas lições precisam ser aprendidas, para que os erros não sejam repetidos. " Esta crise que estamos vivendo é o resultado de anos de descaso com a coisa pública. Vamos demorar para corrigir os estragos. Mas estamos apagando incêndios, e houve a maior renovação do Congresso dos últimos tempos. Temos de ter uma atuação cada vez maior, cobrando aqueles que nos representam. "
A rotina profissional do executivo, casado há 42 anos e pai de três filhos, é extenuante, mas ele não abre mão de se exercitar pelo menos uma hora por dia e de estar em contato com a natureza. Com a família, viaja constantemente para cidades como Paris, onde se empenha em descobrir novidades gastronômicas e apreciar bons vinhos. (TN)
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