Um hábito que se tornou comum na pandemia foi a navegação incessante atrás de notícias sobre o coronavírus. Na maioria dos casos, as notícias sobre a evolução dos casos da doença eram desanimadoras. O movimento de busca por essas notícias foi tão intenso que deu origem a uma nova expressão: o "Doomscroling" que, de acordo com o dicionário britânico Merriam-Webster, caracteriza a "tendência de continuar navegando ou rolando a tela por notícias ruins, tristes, desanimadoras ou deprimentes".
 
Apesar de ter ganhado força durante a pandemia, o hábito ainda é comum. Diferente de apenas ler as notícias ou manter-se informado, o comportamento tornou-se um pouco persistente. Quando o indivíduo lê notícias ruins sem parar e tem dificuldades para se desvencilhar das emoções que resultam desse conteúdo a ponto de afetar sua rotina e vida social, ele pode ser considerado uma vítima de doomscrolling.
 
Em entrevista ao portal especializado Health, dos Estados Unidos, o psiquiatra e PhD do Centro Médico Wexner da Universidade Estadual de Ohio, o Dr. Ken Yeager, explica que estamos programados para ver coisas negativas, isso porque é uma espécie de meio de sobrevivência, uma vez que ao ter conhecimento do perigo é possível se preparar para evitar o pior. Ainda segundo ele, esse excesso de más notícias pode dar a falsa sensação de controle, mas na verdade o impacto é outro: pode levar à infelicidade, ansiedade, depressão e isolamento.
 
De acordo com a psicóloga Thaiana Brotto – especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e pós-graduanda em Neurociência – consumir muito desse tipo de informação, seja ativo ou passivamente, pode ser muito prejudicial, já que o que você ouve tem impacto no humor. A exposição constante a informações negativas pode afetar nossa mente. Quando experimentamos uma ameaça, nosso cérebro ativa a resposta de luta ou fuga, e os sistemas em nosso corpo reagem de acordo.
 
Essas notícias podem ativar o sistema nervoso simpático, que faz com que seu corpo libere hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina. Então, quando estamos vivendo em um cenário de crise mundial como atualmente, enfrentamos essa resposta ao estresse com mais frequência, e podem surgir sintomas físicos, como fadiga, ansiedade, depressão e problemas para dormir.
 
Pensando em amenizar os efeitos negativos do doomscrolling, o Professor de Coaching e Psicologia Positiva da Royal College of Surgeons in Ireland (RCSI) - University of Medicine and Health Sciences, Christian van Nieuwerburgh, separou algumas dicas que podem ajudar a gerenciar esse hábito:
 
1. Determine quanto tempo diário será usado para consumir notícias.
 
2. Esteja ciente do viés de confirmação da notícia que escolheu ler. Em outras palavras, às vezes buscamos notícias que confirmam o que já acreditamos e que podem reforçar nossos medos.
 
3. Verifique a fonte: quem publicou essa informação?
 
4. Seja otimista: busque notícias positivas para equilibrar a experiência de se manter atualizado.
 
Lembrando que não cabe a população deixar de consumir notícias em tempos de crise, afinal se manter informado é útil e pode ajudar em diversas situações. E se você apenas gerenciar a qualidade e quantidade de conteúdo e tempo que passa se informando? Esse é o passo fundamental para o equilíbrio e pode ser muito benéfico para a saúde mental.
 
E aí, já leu uma notícia boa hoje?
 
Fontes:
 
"Redes sociais precisam de pausa", Psicólogo e Terapia
https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/redes-sociais-precisa-de-pausa/
 
"Será que as notícias estão afetando a minha saúde mental?", Psicóloga Thaiana Brotto – Blog Psicólogo e Terapia
https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/sera-que-as-noticias-estao-afetando-a-minha-saude-mental/
 
"Estamos presos no Doomscrolling", Instituto de Tecnologia e Sociedade
https://itsrio.org/pt/artigos/estamos-presos-no-doomscrolling/
 
"Five ways to manage your doomscrolling", The Conversation
https://theconversation.com/five-ways-to-manage-your-doomscrolling-habit-183265
 
Dicionário Webster
https://www.merriam-webster.com/words-at-play/doomsurfing-doomscrolling-words-were-watching